Abílio Lourenço tem 52 anos e nasceu numa aldeia de Ponte de Lima, no Minho. A residir em França há mais de 35 anos é hoje presidente da Société MEGAL, uma empresa especializada no setor da construção e obras em geral sediada na região de Paris, em Choisy Le Roi onde emprega no grupo cerca de 42 colaboradores.
Como é que surgiu a aventura de vir para França?
Estou em França há 35 anos. Como todos, ao chegar aqui procurei trabalho. Vim para ficar dois meses nas vindimas e nunca mais voltei para Portugal. Comecei a trabalhar nas obras. Aqui é muito difícil, faz muito mais frio, já folgava ao sábado e ao domingo, mas sempre que o patrão precisava trabalhava, mesmo ao fim-de-semana.
Os emigrantes que vinham para aqui eram os mais pobres. Com poucos meios vinham para aqui e Portugal acabou por ficar mais rico com o dinheiro que estes emigrantes ganharam e investiram em Portugal. Hoje há muitas casas e apartamentos em Portugal compradas por emigrantes.
(…) Os emigrantes que vinham para aqui eram os mais pobres. Com poucos meios vinham para aqui e Portugal acabou por ficar mais rico com o dinheiro que estes emigrantes ganharam e investiram em Portugal (…)
E a MEGAL? Quando é que decidiu trabalhar por conta-própria?
Abri a empresa porque ganhava pouco dinheiro e não tinha nada a perder. Acho que se tivesse um bom salário na altura, nunca teria aberto a empresa. Muitos portugueses ganham bom dinheiro aqui e não precisam de mais, já tem altos cargos, os que ganham pouco é que acabam por ter mais ambição. É preciso ter alguma coragem para correr o risco de perder um salário e de não ganhar. Eu tinha a vantagem de ser casado e a minha esposa tinha uma loja, se corresse mal tinha sempre uma casa pelo menos.
Comecei a trabalhar por conta própria em 1988 e em 1994 abri a MEGAL. Nós compramos e instalamos produtos de cerâmica para construtores. Trabalhamos maioritariamente na região de Paris.
Tem muitos portugueses a trabalhar aqui?
Já tive mais portugueses a trabalhar comigo. Os portugueses que são bons trabalhadores têm sempre trabalho e não sei onde estão. Os portugueses hoje em dia não são como antigamente.
(…) É preciso ter alguma coragem para correr o risco de perder um salário e de não ganhar. Comecei a trabalhar por conta própria em 1988 e em 94 abri a MEGAL. Nós compramos e instalamos produtos de cerâmica para construtores. Trabalhamos maioritariamente na região de Paris (…)
Eu penso que quando vim para França em 100 pessoas que vinham para cá, 75 conseguiam organizar a vida e entre os restantes 25 ainda havia 12 que se safavam também. Hoje já não é bem assim.
Há varias empresas de recrutamento em Portugal que enviam para cá colaboradores que não sabem fazer praticamente nada e muitas das vezes trazem pouca vontade de trabalhar. Penso que não são todos, atenção, mas muitos são assim. Basicamente, os que são bons funcionários encontram trabalho em todo o lado e muito facilmente, os outros não será bem assim.
Eu julgo que somos ainda uma comunidade muito bem vista aqui em França, os portugueses são bons profissionais.
Trabalha com algumas empresas de Portugal?
Nós trabalhamos com algumas empresas portuguesas, mas não somos nós que decidimos os produtos. Os clientes e os construtores escolhem o produto e quando fazemos o estudo para uma obra já sabemos o que vão querer comprar.
Os produtores portugueses, no que diz respeito à cerâmica, nunca trabalharam como os espanhóis. Os nossos preços não são tão competitivos como os dos espanhóis mas parece-me que estamos no bom caminho.
(…) Basicamente, os que são bons funcionários encontram trabalho em todo o lado e muito facilmente, os outros não será bem assim. Eu julgo que somos ainda uma comunidade muito bem vista aqui em França, os portugueses são bons profissionais (…)
Há muita concorrência de mão-de-obra portuguesa aqui na área da construção?
Se há uma empresa que vem de outros países da comunidade europeia onde a mão-de-obra é mais barata e traz os empregados de lá e paga-lhes a preço de lá faz concorrência desleal porque declarando tudo no seu país tem menos custos sociais, fiscais e de mão-de-obra. Muitos fazem orçamentos baixos demais para ganhar as obras e depois acabam por não conseguir acabar as obras porque o dinheiro não chega para terminar.
Isto parece-me que está para acabar, fala-se há mais de um ano que o governo francês está para aprovar, ou já aprovou, um decreto que obriga os empregados que vêm do estrangeiro a receberem o mesmo ordenado que os empregados daqui. Isto ajuda a acabar com a concorrência desleal e a degradação das condições do trabalho.
(…) Se há uma empresa que vem de outros países da comunidade europeia onde a mão-de-obra é mais barata e traz os empregados de lá e paga-lhes a preço de lá faz concorrência desleal porque declarando tudo no seu país tem menos custos sociais, fiscais e de mão-de-obra. Muitos fazem orçamentos baixos demais para ganhar as obras e depois acabam por não conseguir acabar as obras porque o dinheiro não chega para terminar (…)