“A improvável ascensão do pastel de nata e por quê está de repente em todo o lado” questiona a agência de notícias internacional Bloomberg, num artigo publicado hoje.
Não há turista que passe por Lisboa e não marque presença na pastelaria e fábrica Pastéis de Belém para provar a especialidade da casa: o pastel de Belém. Ou entre em qualquer outra pastelaria do país e não peça o igual pastel de nata.
Para a agência de notícias internacional ‘Bloomberg’, esta centenária especialidade da pastelaria portuguesa tornou-se uma “marca global” que tem a promovê-la uma “muito moderna máquina de marketing”.
Um artigo publicado no site da agência aponta o pastel de nata como caso de sucesso internacional de marketing e avança que “está a caminho de se tornar tão omnipresente quanto o croissant“ francês.
“A improvável ascensão do pastel de nata, e porque é que se encontra em toda a parte” é o título do artigo que começa por lembrar que at´não muito tempo atrás, um autêntico pastel de nata – “a diminuta torta de creme de ovos com uma crosta crocante” – exigia uma viagem a Portugal.
Um cenário que mudou, afirma a jornalista Alice Kantor, acrescentando que “séculos depois de ter sido criado num mosteiro de Belém (Lisboa) por monges”, esta iguaria portuguesa pode agora ser encontrada em cafetarias, padarias e supermercados “de Manhattan (EUA) a Singapura”.
E se em Portugal um pastel de nata custa em torno de um euro (1,14 dólares) chega a custar 3 libras (4 dólares) nos cafés da moda em Londres. “Um supermercado gabava-se por vender 2.000 pastéis de nata por hora no Reino Unido em 2018, competindo em popularidade com os donuts”, escreve a jornalista.
Uma popularidade para a qual contribuiu George Mendes, o chef luso-americano que o introduziu como sobremesa, há um ano e meio atrás, no seu Aldea, restaurante com uma estrela Michelin, em Manhattan.
E até o chef George Mendes mostrou-se impressionado com a ascensão meteórica do pastel de nata como sobremesa no seu restaurante.
A ascensão internacional da iguaria portuguesa aconteceu há menos de uma década atrás, aponta o artigo da ‘Bloomberg’.
Isto apesar desta especialidade lusa ser presença habitual há décadas junto das comunidades portuguesas em cafés, mercearias e supermercados.
À conquista do mundo
O artigo refere que não é claro o que terá provocado esta ‘descoberta’ mundial, mas avança com uma possibilidade.
“Culturalmente, Portugal é uma paragem obrigatória para viajantes de todo o mundo, e Lisboa é cada vez mais o centro tecnológico para a geração millennial que sai de Londres e Nova York. Os famosos Pasteis de Belém e (a pequena pastelaria onde são vendidos com) os azulejos azuis e brancos foram feitos para elogios do Instagram, apesar de a loja ter sido fundada em 1837″, aponta o artigo da ‘Bloomberg’.
Outro motivo para o sucesso mundial desta iguaria tão portuguesa é o trabalho de promoção que tem sido feito a nível governamental, sublinha o artigo, dando como exemplo o apoio Nata Festival em Londres.
E refere ainda que nos últimos três anos, o Governo gastou 50 milhões de euros por ano no estrangeiro, promovendo o país e produtos nacionais como o pastel de nata.
Mas a ‘Bloomberg’ revela ainda uma “fonte improvável” de promoção no estrangeiro: uma pequena empresa chamada ‘Nata Pura’, do português Mabílio Albuquerque, “que quis fazer com o pastel de nata o que a ‘Dunkin Donuts’ fez com os donuts”, revela o artigo.
Com o apoio da Portugal Venture (sociedade gestora de fundos de capital, gerida por agências governamentais), a ‘Nata Pura’ tenta exportar o pastel de nata para os quatro cantos do mundo.
Mabílio Albuquerque contou à ‘Bloomberg’ que que usou as estratégias de marketing de grandes empresas como a McDonald’s para adaptar e vender o pastel de nata ao gosto local de vários países no resto da Europa e Ásia. A Coreia do Sul é um mercado de grande sucesso.
A pequena empresa recebeu reações entusiastas numa feira de alimentos em Londres, onde Albuquerque vendeu-o como um produto de luxo mas acessível, e com uma história especial. Realizou ainda degustações e patrocinou eventos como o ‘London Coffee Festival’ e a ‘BBC Good Food’.
Resultado: “a empresa agora vende cerca de 500.000 natas por mês em 5.000 lojas em todo o mundo”, revela a ‘Bloomberg’ no artigo.
Quando ao chef George Mendes, diz que, por enquanto, o seu Aldea será o único restaurante de alta qualidade a oferecer o pastel de nata em Manhattan. Mas assume que que não ser´para si uma surpresa se esta icónica especialidade da pastelaria portuguesa se tornar mais comum em Nova Iorque…
Ana Grácio Pinto