JÁ VAI A MEIO A ÉPOCA DA APANHA DA AZEITONA
De um país que no final da década passada importava azeite para consumo próprio, Portugal alcançou em 2017 a marca de 4º maior exportador e 7º maior produtor do mundo. As vendas externas alcançaram 437 milhões de euros, de acordo com o Conselho Oleícola Internacional (COI). O Brasil que, por afinidade cultural e antigas relações comerciais, é o principal destino das vendas portuguesas. 57% do azeite importado para o consumo do Brasil era azeite português! A apanha da azeitona é uma atividade que se encontra na memória de todos os que nasceram nos meios rurais e que no mundo da emigração recordam os tempos em que em cada aldeia, havia um ou por vezes mais lagares tradicionais. Muitas são as histórias e recordações daqueles momentos de lavoura que são relembradas como temporadas felizes de convívio. Usualmente a apanha era feita em família e acompanhada de cantares. Ainda se faz muito assim, se bem que a mecanização, os novos olivais hoje façam a colheita e transformação mais rápido, mais eficiente e com maior qualidade que os azeites produzidos há uns anos atrás
Os lagares tradicionais, em Portugal contam-se “pelos dedos das mãos” e deram lugar a modernas e mais higiénicas linhas de extracção. Sem azeitona, não há azeite e para um bom azeite tem haver boa azeitona, sã e madura. A nossa variedade rainha é a “galega” que dá um azeite de excelência, porém há outras variedades que produzem azeites de excelência de sabores diferentes e apropriados para outros pratos. O azeite intimamente ligada à cultura portuguesa é uma tradição que foi herdada pelos nossos antepassados há muitos séculos atrás e perpetua-se no tempo, graças às suas gentes e à sua dedicação, em manter vivo este saber.
APANHA EM MESES DISTINTOS
A apanha da azeitona é realizada em épocas diferentes dependo da zona do país. Por exemplo, o início da apanha não ocorre ao mesmo tempo entre o Nordeste Transmontano e o Alentejo, devido: ás características climáticas de cada região; ás variedades das oliveiras; e aos diferentes métodos de cultivo.
A finalidade do cultivo da oliveira, ou seja, para obter as azeitonas de mesa ou para o azeite é outro fator que também detém influência.
Escolher o momento certo é uma questão de experiência acumulada e pode dar ao olivicultor uma vantagem competitiva em termos de rendimento de produção, características organolépticas, cor, sabor e aroma.
Uma das formas de verificar o nível de maturação em que a azeitona se encontra é através da sua cor. A colheita deverá ocorrer na fase de viragem – quando a “azeitona” está a ficar roxa -, altura em que atinge o máximo de quantidade de gordura e este apresenta as melhores características e de forma a conservar o crescimento da oliveira, que nos garante a produção do ano seguinte. O tempo certo de colheita também se encontra muito associado às características dos azeites a obter. Os azeites obtidos a partir de azeitonas com o estado de maturação inicial apresentam uma cor esverdeada e são mais aromáticos e frutados. A partir de azeitonas em plena maturação obtêm-se azeites com uma coloração amarelo palha e pouco ricos em sabor. O consumidor português tradicional opta pelos azeites doces e para obter este tipo de azeite mais doce é importante realizar a colheita mais tarde. Depois da apanha, a azeitona passa por várias etapas antes e depois de ser entregue no lagar. Antes de ser levada para o lagar é procedida a sua limpeza, retirando as azeitonas que não se encontram em condições e retiradas todas as folhas e cavacos que detenha. No lagar é procedida lavagem, pesagem, moenda, batedura, extração do azeite, filtragem e o armazenamento. Termina assim a viagem por entre saberes e tradições que espelham a identidade de um povo.
MELHOR AZEITE DO MUNDO
É em Portugal que se faz o melhor azeite do mundo. E quando são conhecidos os vencedores do prémio Mario Solinas, que é o mais prestigiado prémio internacional na indústria do azeite e que é atribuído pelo International Olive Council (Conselho Internacional do Azeite) Portugal ganha, sempre quatro ou mais prémios! Esta é a realidade.
Esses azeites e não especificando as marcas nem os produtores, marcam sempre presença há 25 anos a esta parte da maior feira de Produtos Alimentares Portugueses – SISAB PORTUGAL evento criado em parceria com este jornal e que durante este quarto de século reúne em Lisboa os maiores e melhores produtores nacionais, e ao mesmo tempo trazendo a Portugal os importadores dos melhores produtos alimentares portugueses. A próxima edição é nos dias 2-3-4 Março de 2020 no Altice Arena em Lisboa. Mas voltando ao azeite, um dos produtos que os portugueses mais estimam e que possui presença assídua nas mesas nacionais. A dieta mediterrânica, que faz parte do nosso quotidiano, acolhe este produto de braços abertos, uma vez que ele enriquece inúmeros pratos tipicamente portugueses.
Além de grandes consumidores deste produto, os portugueses têm-se revelado ótimos produtores de azeite e os portugueses fora de Portugal são os maiores “ embaixadores” do genuíno azeite português. Exemplos não faltam com o Brasil no topo das exportações.
Quanto a concursos internacionais, depois do Mário Solinas, temos o World’s Best Olive Oils 2019, que decorre na Big Apple, na cosmopolita Nova Iorque. Este Concurso Internacional que possui uma credibilidade inatacável e que reúne os melhores azeites do mundo. É, seguramente, um dos maiores e mais prestigiados concursos mundiais do setor. No total, na última edição, foram mais de 28 países e 900 azeites em competição e o azeite português que se evidenciou neste concurso foi o Azeite Virgem Extra Premium, de uma Cooperativa do Alentejo, que arrecadou uma medalha de ouro e que, consequentemente, conquistou um lugar entre os melhores do mundo. É proveniente da Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos, este azeite conseguiu com esta medalha captar a atenção de todo o mundo.
Segundo os especialistas, este azeite apresenta como características o aroma inicial a erva e a maçã verde que tanto surpreende como conquista.
Na boca, a frescura e a textura fina seduzem levando a uma prova de fazer revirar os olhos: o amargo moderado e o picante são bem balanceados pela suavidade do amendoado discreto.
Acompanha na perfeição grelhados de carne e peixe, mas também acompanhamentos de arroz ou pasta. ainda de prémios, recentemente, os azeites portugueses conqusitam medalhas de prata quer no ‘Olive Japan 2019’, quer no ‘World Edible Oils Paris 2019’ (17ª edição do concurso internacional da AVPA-Paris 2019).
BOA CAMPANHA PARA 2019-2020
Referem os dados dos organismos oficias do Ministério da Agricultura que a campanha da azeitona de 2019/2020 perspectiva-se como mais um ano em que o azeite vai manter um nível elevado de qualidade. A produção de Portugal, que está entre os países maiores produtores de azeite mundiais, apontam que “a produção está estimado em 130,000 toneladas para o este ano, enquanto uma produção recorde é projetada para a Tunísia com 350,000 toneladas. Espera-se que os restantes produtores do Mediterrâneo coloquem outras toneladas 400,000 de azeite e o resto do mundo 70,000 toneladas no total. Os primeiros números globais provisórios para a época de colheita do azeite 2019 / 20 surgiram em Espanha, indicando que a produção espanhola será ligeiramente reduzida, mas são esperados números melhorados noutros países produtores que enfrentaram sérios problemas na campanha anterior. Em Portugal, e muito especialmente no Alentejo e Região Centro, decorrem as colheitas de azeitona para azeite e a presente campanha vai dar mais (+30% a 40%), que a campanha 2018-2019.
O PESO DAS EXPORTAÇÕES
Registe-se que, segundo dados oficiais “ Nos primeiros 9 meses da campanha 2018-2019 (Outubro – Junho), as exportações de azeite virgem extra e virgem aumentaram em volume, relativamente ao período homólogo da campanha anterior! Porém há muitas regiões de pequena propriedade e olivais familiares, onde o cultivo da oliveira, prática que tem séculos, está cada vez mais ameaçada e em anos de grande produção, como é este de 2019. Os pequenos produtores não conseguem vender por vezes o seu azeite, na colheita, e se falam a mão de obra (cada vez mais escassa) para a apanha, isso não compensa. O azeite está barato e não se vende e pior que tudo isto, depois de muitas canseiras e molhas, desfazer a sua azeitona, tem que deixar no lagar 25% da produção na “maquia” , ou pagar 0,10 por Kg de azeitona entregue, e pior que tudo alguns lagares passaram só a receber pelo serviço prestado, não a tradicional e ancestral maquia, mas uma média de 0,75 € por litro de azeite que o produtor produz.
É na exportação do nosso azeite que está a nossa grande mais valia e cada vez tem maior interesse as exportações. O azeite proveniente de azeitona Cobrançosa, cordovil, negrinha do freixo, maçanilha, verdeal, madural ou pura e simplesmente galega Portugal tem um dos melhores azeites do mundo e, num universo de mais de 1.200 tipos de azeitonas catalogadas no mundo, Portugal possui perto de 30 variedades típicas, que conferem características únicas ao seu azeite. O solo e clima faz o resto!
CLASSIFICAÇÃO DO AZEITE
De acordo com a legislação vigente, as designações e definições dos azeites são as que se seguem (Regulamento (CE) nº 1234/2007 do Conselho de 22 de Outubro de 2007)
Azeites Virgens – Azeites obtidos a partir do fruto da oliveira unicamente por processos mecânicos ou outros processos físicos, em condições que não alterem o azeite e que não tenham sofrido outros tratamentos além da lavagem, da decantação, da centrifugação e da filtração, com exclusão dos azeites obtidos com solventes, com adjuvantes de acção química ou bioquímica ou por processos de reesterificação e qualquer mistura com óleos de outra natureza.
Os Azeites virgens são classificados e denominados do seguinte modo:
Azeite virgem extra – Azeite virgem com uma acidez livre, expressa em ácido oleíco, não superior a 0,8 g por 100 g e com as outras características conformes com as previstas para esta categoria.
Azeite virgem – Azeite virgem com uma acidez livre, expressa em ácido oleíco, não superior a 2 g por 100 g e com as outras características conformes com as previstas para esta categoria.
Azeite lampante – Azeite virgem com uma acidez livre, expressa em ácido oleíco, superior a 2 g por 100 g e/ou com as outras características conformes com as previstas para esta categoria.
Azeite refinado – Azeite obtido por refinação de azeite virgem, com uma acidez livre expressa em ácido oleíco não superior a 0,3 g por 100 g e com as outras características conformes com as previstas para esta categoria.
Azeite – composto por azeite refinado e azeite virgem – Azeite obtido por loteamento de azeite refinado e de azeite virgem, com exclusão do azeite lampante, com uma acidez livre, expressa em ácido oleico, não superior a 1 g por 100 g e com as outras características conformes com as previstas para esta categoria.
ANTÓNIO FREITAS
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