A iniciativa de 30 viticultores da região da Cova da Beira em se constituir em cooperativa data de 1949, já lá vão 65 anos. Presentemente, a cooperativa conta com mil associados que se distribuem pelos concelhos de Penamacor, Fundão, Castelo Branco, Idanha a Nova, Proença a Nova e Proença a Velha, ou seja, todos os concelhos do distrito de Castelo Branco, exceto Covilhã e Belmonte.
Com as suas uvas distribuídas por mais de 1500 hectares, os associados da Adega Cooperativa do Fundão produzem, em média, 4 milhões de kg de uvas que, depois da vinificação, dão excelentes e premiados vinhos.
Albertino Nunes é o presidente desta adega, com vários mandatos, estando neste último desde 2005 e conta já com mais anos de residência na cidade do Fundão que do seu concelho de Tomar onde nasceu. Na Adega, como refere em lugares de direção, “já cá ando desde 1992”. Viticultor e tendo cursado até ao 3º ano de engenharia técnica e civil, em Lisboa, trabalhando de dia como carpinteiro e estudando de noite, com largos anos de experiência na Adega, fala da mesma e regista a sua evolução que se mistura com a própria história do Fundão.
Quando aqui chegou há 53 anos e tendo hoje 76 anos de idade, o Fundão não era a cidade que hoje conhecemos, sendo que a única coisa que não mudou e não muda é este microclima de uma região abençoada por Deus e que no campo vitícola proporciona que se produzam uvas que não são tão atacadas pelas pragas do míldio e oídio e que bastam dois tratamentos fitossanitários, em média, por ano para se ter uvas que se até se poderiam vir a considerar biológicas.
O “fator altitude” faz com que aqui surjam “dos melhores brancos do país”. O outro segredo encontra-se no bem fazer e na experiência dos sócios, regista-nos o dinâmico presidente da adega. “De ano para ano nunca tivemos problemas de qualidade, regista Albertino Nunes, e as quantidades por vezes é que baixam, consoante as colheitas por épocas, mas a qualidade das uvas recebidas dos nossos associados permite-nos fazer excelentes vinhos que todos os anos ganham prémios e que gozam de grande popularidade, não apenas em solo nacional, já que os mesmos se encontram de Norte a Sul,mas também nos mercados internacionais”. Na verdade, os vinhos da Adega do Fundão vão para o mundo, onde o mercado da saudade em muito contribuiu, mas há muito que os consumidores dos mercados de exportação são os naturais dos próprios países.
A presença em feiras internacionais e no SISAB PORTUGAL, através da Comissão Vitivinícola da Beira Interior, tem em muito contribuído para a divulgação e promoção dos vinhos da Adega Cooperativa do Fundão.
A capacidade instalada da adega para transformação de uvas é muito maior que as uvas que presentemente recebem e defende e bem o alargamento da área social da adega para poderem vir a receber mais sócios e mais uvas desta região, já que os prémios conquistados atestam bem que aqui se produzem excelentes vinhos. Com as uvas em dia pagas aos associados, os vinhos da Adega Cooperativa do Fundão já chegaram à China e com volumes de encomendas interessantes.
30% são exportados
A direção da Adega do Fundão tem feito da internacionalização dos seus vinhos uma das suas grandes prioridades e, refere Albertino Nunes, “neste momento, estamos a exportar quantidades muito razoáveis para países como a França, Polónia, Suíça, China, Guiné-Bissau, Angola, Brasil e São Tomé e Príncipe. Os mercados internacionais são muito importantes para nós, pois garantem-nos pagamentos na entrega da mercadoria, o que por vezes não se verifica com um ou outro agente económico em Portugal”.
Outros mercados internacionais estão em vista e as propostas a parecerias internacionais estão abertas, já que no catálogo da Adega do Fundão encontramos grande leque de vinhos premiados e isso reforça e bem a excelência dos vinhos aqui produzidos.
Apesar das dificuldades do mercado nacional em absorver os vinhos que em Portugal se produzem e de alguma invasão de vinhos estrangeiros a preços concorrenciais arrasadores e de um mercado paralelo que todos sabemos que existe, mas cuja fiscalização e controle compete às autoridades pela qualidade, os vinhos aqui vinificados têm-se afirmado e com sucesso e ao longo de seis décadas e meia.
A direção da Adega do Fundão aposta num crescimento sustentado e vai entretanto fazer obras, dotando as mesmas instalações – mesmo no centro do Fundão – como um património a visitar inserido na Rota dos Vinhos e no enoturismo desta região. Nos vinhos tintos, no mercado podemos encontrar as marcas com a chancela da Adega Cooperativa do Fundão: Oito Bicas, Alcambar, Covas da beira, Pedra D´Hera, Alpedrinha, Praça Nova Reserva, Praça Nova Garrafeira e Fundanus Prestige. Nos brancos, o Oito Bicas, Alcambar, Cova da Beira e Pedra d´Hera e Alpedrinha. Produz ainda um jeropiga – Alpedrada e Rosé Coca da Beira Rosé. Uma aguardente envelhecida Praça Velha reforça a oferta.
Enólogo Ricardo Botelheiro
“Os vinhos da Adega do Fundão são genuínos, com massas muito heterogéneas”
“O Instituto Superior de Agronomia foi determinante na minha forma de estar neste mundo do vinho, a teoria, as tecnologias apreendidas e a prática através dos estágios de vindima e profissionais fizeram-me conhecer o mundo do vinho e a vontade de querer saber mais.
Tive a sorte de trabalhar em várias regiões do país como a Bairrada, Colares, Alentejo e Beira Interior onde trabalhei com mestres com que tive e ainda tenho a sorte de conviver e aprender. Como experiência internacional fiz estágios de vindima nos EUA e no Chile, fundamentais para saber o que se faz lá fora, e importantes no crescimento pessoal.
Nos dias de hoje faço questão de todos os anos visitar novas regiões vitivinícolas espalhadas por esse mundo e a Adega do Fundão reconhece essa necessidade e incentiva o conhecimento e aprendizagem, pois num mundo tão competitivo temos que procurar estar na vanguarda do conhecimento.
Os vinhos da Adega do Fundão são genuínos, com massas muito heterogéneas. Quentes e muito frutados quando originários do sul da Gardunha e elegantes e discretos na Cova da Beira.
A maior aposta da Adega do Fundão continua a ser nas castas regionais. No caso dos brancos com a Fonte Cal, Síria e Fernão Pires normalmente muito bem acompanhadas com o Arinto. São vinhos frescos e aromáticos com uma notável capacidade de envelhecimento.
Nas castas tintas mais uma vez as castas regionais continuam a ser aposta forte como a Trincadeira, Rufete, Bastardo, Marufo, Jaen seguidas pela Tinta Roriz e Touriga Nacional.
Vinhos únicos, elegantes e sempre gastronómicos. Os vinhos da Adega do Fundão têm como bandeira a baixíssima aplicação de fitofármacos nas vinhas já que se contam pelos dedos das mãos os anos com mais que duas aplicações.”
Fundão: capital da Cova da Beira
Terra onde a imponência das Serras da Estrela e da Gardunha se esbate por entre aldeias de sonho e cerejeiras em flor, numa das planuras mais ricas e formosas de Portugal..
A imponência natural da Serra da Gardunha não é apenas uma notável visão do granito. São belos cenários de socalcos cruzados por calçadas romanas. São recantos de arvoredos seculares de onde brotam fontes e águas que todos apreciam. São os tesouros medievais da Aldeia Histórica de Castelo Novo e são as feições artísticas e monumentais da vila de Alpedrinha.
O concelho do Fundão possui uma gastronomia muito rica, cheia de tradições e história. Dos enchidos à doçaria, é fácil apreciar os bons pratos da terra. Para os amantes de uma boa mesa apresentam-se, em seguida, sugestões de alguns dos pratos típicos. Como pratos principais temos: migas de grão, migas de vinha de alho, ensopado de borrego, peixinhos da horta (feijão verde albardado), feijoada de lebre, beringelas com ovos, arroz de tordos, arroz à moda do Fundão (arroz de espigos), bacalhão à lagareiro, cabrito assado e borrego assado; no que respeita a enchidos: chouriças, farinheiras, morcelas, mouros e buchos e, por fim, como não podia deixar de ser os doces tradicionais: arroz doce, pão-de-ló, pão leve, bolo finto, bolos de soda, bolo de sementinhas, esquecidos, biscoitos, borrachões, broas de leite, cavacas, tigelada e leite creme e, claro, sempre acompanhados pelos excelentes vinhos da Adega do Fundão, recomenda-se!
A cidade do Fundão é reconhecida como núcleo urbano desde há mais de oito séculos.
Entre os séculos XVI e XVIII, o Fundão viveu um dos períodos mais prósperos da sua história, aquando da expansão mercantil dos panos e da indústria dos lanifícios, a que não foi alheia a chegada no final do século XV de numerosas famílias judaicas de Espanha e, mais tarde, as iniciativas do Conde da Ericeira e do Marquês de Pombal que aqui fundou uma Fábrica Real, no edifício que é hoje a Câmara Municipal.