Na primeira metade do sec. XX, a dedicação à produção agrícola de diversas culturas, fez com que nascesse um ambicioso projecto no Ribatejo. Esse mesmo projecto, é nos dias de hoje uma paixão familiar de três gerações, que cresce nas margens do rio Tejo, junto à Vila de Tramagal, e que se estende por uma área com cerca de 250 hectares, distribuídos entre vinhas e diversas culturas arvenses protegidas por uma pequena área de pinhal.
A diversidade paisagística da exploração tem permitido a permanência de algumas espécies cinegéticas – a perdiz, o pato bravo, o javali e, muito especialmente, o coelho, espécie abundante que terá dado origem ao nome da propriedade – o Casal da Coelheira. É no paralelo 39 Norte, num clima mediterrâneo temperado e de baixa altitude, que as vinhas se distribuem numa área de 65 hectares, junto ao Tejo e Linha ferroviária da Beira Baixa que saindo do Entroncamento via Abrantes e no Tramagal a “pátria” da Metalúrgica Duarte Ferreira.
Aqui as temperaturas oscilam ao longo de Verões secos e Invernos rigorosos, oferecendo condições de solo e clima únicas para a produção de uva de elevada qualidade. As maturações são normalmente atingidas por finais de Agosto, permitindo o inicio de uma vindima escalonada, mas ao mesmo tempo precoce, evitando desta forma os períodos das primeiras chuvas Outonais.
Actualmente a idade da vinha está compreendida entre 1 ano e 35 anos de idade, coexistindo desta forma vinhas velhas de elevada qualidade, com plantas mais jovens de grande potencial. Predominantemente em solos arenosos, o encepamento é diversificado, com especial destaque para as castas nacionais de maior potencial qualitativo, mas, sem esquecer as referências internacionais.
Nuno Falcão Rodrigues- 45 anos de idade; gerente que iniciou a sua formação agrícola em escola superior em Castelo Branco onde lhe despertou o interesse pelo vinho. Refere-nos que no final do curso teve a sorte de ir para França para a região de Montpellier e quando regressou ingressou no Instituto Superior de Agronomia em Lisboa, tendo feito a Licenciatura em Engenharia Agro-Industrial. Abraçou o projecto da família e é o Enólogo.
Recebe-nos, nesta paixão de família de produzir vinhos e que seguiu o processo iniciado pelo seu pai José Rodrigues, também gerente da empresa.
MP- Os vinhos que produzem são provenientes de uvas da vossa produção ou compram a produtores aqui da região?
Nuno Falcão Rodrigues – Vinificamos somente a nossa produção, das uvas produzidas nas nossas vinhas que têm uma área de 65 hectares. O nosso portfólio está divido em três, quatro patamares. Temos uma referencia que introduzimos há dois anos, digamos neste contexto de crise e também novos há- bitos de consumo que é um “bag in box” a marca Areão, que está implementado a nível regional, no distrito de Santarém. Temos depois em engarrafados o “ Terraços do Tejo” ou seja a nossa linha de entrada nos engarrafados e depois passamos às nossas marcas principais o “Casal da Coelheira” depois cresce para outro patamar, que é o patamar dos reservas e temos um reserva branco e um reserva tinto e finalmente a linha mais alta que é o “Mythos”. Entretanto dentro de um mês vamos lançar uma linha nova, que se situa entre os reservas e Mythos que é Casal da Coelheira Private Collection (uma pequena produção).
MP- Apesar da Quinta ser antiga, mas mais jovem nas vossas mãos, hoje são já uma referência no mercado dos produtores de vinho…
NFR- De uma ambição na data em que os meus pais adquiriram esta Quinta (1989) que era uma ambição claramente regional, a pouco e pouco expandimos a nossa presença a nível nacional e até internacional que hoje em dia acabar por absorver 50% da nossa produção.
MP- Estando em que países?
NFR- Estamos em dezoito países, o que nos dá algum conforto, perante possíveis instabilidades no mercado nacional, como o que assistimos agora em Portugal e a nível internacional é aí que a empresa aposta e pensa e sabe que vai crescer. Mercados como o Brasil, EUA serão as nossas apostas mais fortes para 2016 onde pensamos conseguir crescer mais, mas há outros mercados com potencial como o mercado asiático, onde contamos aumentar a nossa presença. Na Europa estamos mais ou menos “pulverizados” com clientes de pequena e média dimensão na Bélgica, Suíça, Polónia, Rússia, Letónia, Holanda, Reino Unido. A nossa entrada nos mercados internacionais não foi pelo mercado da saudade, mas sim pelos consumidores locais, não deixando de ser importante para nós o mercado da saudade. Não fomos nós que fomos à procura do mercado mas sim o inverso o que não deixa de ser curioso, mas hoje já não estamos parados em casa, e vamos ao mercado internacional à procura de parceiros.
MP- E da parte da Adega da Coelheira há resposta a nível de produção e vinhos
NFS- Estamos sempre em contante reconversão da área de vinha, e temos potencial para crescer. Produzimos na casa dos 400 mil litros, e queremos crescer. 70% da produção é tintos, o “benjamim” da casa é o Rosé que ganhou um Best Wine Trophy que os media vieram, simpaticamente, dizer que era o melhor rosé do mundo, o que não é correto, pois hoje em dia não há nenhuma competi- ção, nenhum concurso que seja reconhecido como aquele que atribui o “ melhor vinho do mundo”. Mas não deixou este prémio de ter mediatismo e ser uma boa ajuda à promoção da casa e aos vinhos que produzimos. O rosé é a menor produção da casa dos vinhos que produzimos, mas é um produto pelo qual temos um grande carinho e no qual continuamos a apostar.
MP- Falamos das vossas castas
NFR – O foco continua a ser nas castas portuguesas, que é a nossa riqueza e que é a nossa diversidade, dado não conseguirmos competir nos mercados internacionais com preço, mas temos capacidade para competir em termos de qualidade e diversidade; nos vinhos tintos temos Touriga Nacional; Tourig Franca; Trincadeira; Aragonês; Castelão. Não rejeitamos as castas estrangeiras que na altura da nossa entrada no mercado foram por assim dizer o nosso “ porto seguro” ; como o Cabernet Sauvignon; Syrah; Alicante Bouschet. Nos brancos temos a nossa “ribatejana” Fernão Pires; Arinto; Verdelho e Chardonnay. Sendo um produtor pequeno o nosso foco serão alguns nichos de mercado e vamos á procura de um mercado conhecedor, de um mercado maduro, que procura descobrir coisas novas e essa é a nossa linha.