Vilacetinho poder-se-ia considerar um “gigante”, quando pensamos na estrutura de propriedade do Douro, resultante da união de duas vetustas quintas que durante séculos desde a Idade Média, integraram o património fundiário do Mosteiro Beneditino de Alpendurada.
Vilacetinho era, nada mais nada menos, do que uma centena de hectares ou mais de propriedade de cultivo, em terreno de planura, bem junto ao leito do rio Douro. Esta magnífica propriedade com características agrícolas excepcionais, implantada sobre o Rio Douro em Alpendurada, concelho de Marco de Canavezes, está na oitava geração da mesma família. O ‘Mundo Português’ entrevistou João Miguel Maia, membro da família e director desta empresa vitivinícola.
Tomando conhecimento da história da vossa Casa, verificamos que a mesma é uma extensa propriedade agrícola com vários hectares de vinha, um Solar no Douro dos séculos XVII-XVIII que integrou o património mosteiro beneditino de Alpendurada.
É um facto, eu sou a 8ª geração, a minha formação é em gestão, mas “nasci e cresci na vinha”. Possuímos 30 hectares de vinha, produzimos só vinhos verdes com maior predominância de brancos. Somos os viticultores que estamos na “Rota dos Vinhos Verdes” mais a sul. A região como sabem começa em Melgaço/Monção, fazemos parte da Sub-região de Amarante, mas estamos numa zona de transição, entre a Região dos Vinhos Verdes e o Douro.
Dentro das castas dos Vinhos Verdes tem as castas tradicionais?
Temos o Alvarinho, o Avesso, o Loureiro, Arinto e Azal. Temos apostado em castas indígenas, mas a casta desta região, autóctone é o “Avesso” e essa é a nossa aposta. Todos os nossos vinhos, excepto os tintos tem uvas dessa casta.
Quanto vinificam?
Cerca de um milhão de garrafas.
Nos vossos pergaminhos foram fornecedores de um Hotel em Portugal emblemático em Lisboa – O Ritz e nesta data em que fazemos esta entrevista e em que o Presidente da República está a ser recebido em Inglaterra pela Rainha Isabel II, quando da sua visita a Portugal foram-lhe servidos vinhos vossos…
É um facto e como curiosidade histórica, Vilacetinho foi o vinho servido a Isabel II de Inglaterra, no banquete realizado em Lisboa, aquando da visita da soberana a Portugal em 1957, tendo sido nessa altura dotado de um rótulo especial, que ainda o mantemos e engarrafamos e; o escolhido pelos próprios ingleses entre vários lotes de vinhos apresentados. Também ainda como curiosidades históricas, a preferência de um dos mais conhecidos Hotéis de Portugal, o Ritz, pelo Vinho Vilacetinho, assim bem como a da Presidência do Conselho, que na altura, incluía Vilacetinho na sua garrafeira e um contrato celebrado com a TAP (Transportes Aéreos Portugueses), que no seu início, servia aos passageiros pequenas garrafas de vinho Vilacetinho a acompanhar as suas refeições.
Fomos, um dos primeiros produtores engarrafadores da região dos anos 50, apesar da casa ser muito mais antiga; em que criamos a nossa própria marca ‘Casa de Vilacetinho’. A nossa aposta foi sempre na qualidade e produzirmos vinho das nossas próprias vinhas. Poder-se-à dizer que o Vinho Vilacetinho é um vinho único, fazendo dele, um néctar apreciado e admirado e tornando-o de certa forma e devido às características do terroir onde se encontra inserido, um vinho diferente com um refinamento de qualidade que lhe dá uma certa feição de Champagne.
Com uma produção de um milhão de garrafas, estão no mercado nacional e exportam?
Cerca de 40% da nossa produção é exportada. O nosso principal mercado de exportação é os EUA, seguem-se a Alemanha, a Suíça e o Luxemburgo também e cada vez mais o Canadá. Nos EUA e a Alemanha os consumidores são essencialmente naturais dos países, que tem uma boa percepção do nosso vinho verde, pois estamos a falar de vinhos com valor acrescentado e não fazemos mais um vinho verde. A nossa aposta é na qualidade. O nosso vinho de entrada é o ‘Vilacetinho’, o que mais produzimos e um vinho para beber dentro de um ano, após o engarrafamento. Temos depois o ‘Casa Vilacetinho Grande Escolha’, o colheitas seleccionadas em que muitos são monovarietais, o Avesso Reserva e o Avesso Espumante, vinhos que podem envelhecer e que ganham qualidade com a idade, algo que não é muito comum com os vinhos verdes. A casta Avesso tem grande capacidade de envelhecimento.
Tem ainda mais capacidade para exportar para fazer chegar os vossos vinhos a novos consumidores e mercados?
Temos sim. Temos uma capacidade de fazer 3 milhões de garrafas, comprando uvas na região a produtores seleccionados e exclusivos.
Os mercados internacionais tem cada vez maior importância para os vinhos portugueses e certamente para os vinhos da Casa de Vilacetinho…
É um facto e a nossa aposta tem sido nesse sentido.
Não queremos estar dependentes só do mercado nacional, queremos diversificar o mais possível os mercados internacionais, temos marcado presença nos salões internacionais, temos apostado muito nos mercados asiáticos, com a segunda visita ao Japão, um mercado que tem tido crescimento e vamos estar novamente no SISAB PORTUGAL, em 2017, onde esperamos receber os importadores internacionais que visitam o Salão. Registo que o SISAB PORTUGAL faz um trabalho importante de divulgação e traz a Portugal não só ao Salão mas a visitar as quintas os importadores internacionais e a visita dos mesmos ao terroir onde se produzem os vinhos é a melhor forma de os divulgar. No último ano abrimos cinco novos mercados: a Austrália, o Japão a Bélgica e a Ucrania e a Rússia. Os nosso vinhos, dado a sua acidez, frescura, aromáticos e isso por estarmos numa zona de transição, acompanham muito bem a gastronomia internacional, comida japonesa, indiana entre outras. Cada mercado tem a sua particularidade e os Vinhos da Casa Vilacetinho adaptam-se muito bem à gastronomia local. Registe-se ainda que vamos aumentar a área de plantio de vinha, todas as uvas são colhidas manualmente, o que nos dá muita liberdade na maneira de fazer a vindima, em que começamos a fazer os controles de maturações a partir de Agosto e com a vindima manual, esperamos até colher as uvas na melhor fase de maturação. Temos três enólogos a trabalhar na empresa que fazem parte do efectivo de 15 pessoas, dois enólogos residentes em que o principal é o José Manuel Antunes e o principal enólogo consultor o António de Sousa.
E em termos de prémios internacionais?
Os nossos vinhos ao longo destes vários anos tem conquistado os mais variados prémios nacionais e internacionais. Quero realçar o ‘Casa de Vilacetinho Grande Escolha’ que ganhou e foi o único vinho branco em Portugal, a ganhar uma grande medalha de ouro no Concurso Mundial de Bruxelas em 2013 e, depois no ano seguinte esteve nas “100 melhores compras na Wine Enthusiast Magazine”, em nº 49.