Com excelentes condições para produções de escala, assim como para potenciar produtos Premium,a Adega da Labrugeira tem visto o seu reconhecimento tanto por parte de jurados internacionais assim como pelo consumidor final. Elabora diversos produtos vínicos, tendo sempre como objectivo mostrar o que há de melhor na região e da sua gente, levando esta qualidade aos quatro cantos do mundo, como explica Carneiro Santos.
Como nasceu a Adega da Labrugeira?
Esta adega foi fundada por 18 viticultores do conselho de Alenquer que concretizaram este sonho em 1973, depois com o 25 abril e com a adega em construção, houve alguns percalços. Começou a laborar-se logo a partir dessa data na adega de três sócios fundadores e a partir de 1977 nas instalações construídas de raíz para o efeito.
Somos uma adega com mais de 40 anos que já passou por várias fases. Apanhámos o 25 de abril de 1974 com a Adega em construção e com as convulsões da época, os apoios prometidos acabaram por não vir e para acabar as obras tivemos de recorrer à banca. Atravessámos então uma época difícil, com algum passivo e juros não previstos inicialmente, até que apareceu um programa estatal de apoio às adegas que tinham maiores endividamentos e com o aproveitamento dessas linhas de crédito conseguimos fazer um saneamento financeiro em 1987/88.
A partir dali e como fomos das primeiras adegas da região a colocar linhas de engarrafamento, isso permitiu-nos começar a engarrafar e a produzir vinhos engarrafados com algumas mais valias e com distribuição nacional; depois passou-se à fase de vinhos mais sofisticados com a introdução de castas especiais e passou a haver vinhos DOC, o setor conheceu um dinamismo acrescido, levando a que fossem substituídas em 1989 as antigas regiões demarcadas. Deu-se então uma reorganização do setor e a partir daí estivemos logo na primeira linha dessa reorganização, começando logo a ter na nossa gama, vinhos de mesa, regional Estremadura (agora Regional Lisboa) e vinhos DOC Alenquer. Em 1991 iniciámos também a produção de vinhos monovarietais e com duas castas, que ainda mantemos até hoje. Fomos também uma das seis Adegas que iniciaram na década de 90 a produção de vinhos leves.
A seguir veio um ciclo em que o mercado nacional estava muito saturado e as empresas maiores tiveram de procurar a exportação, e foi isso que nós fizemos, seguindo a via da exportação na década de noventa, sendo que atualmente cerca de 50% da nossa facturação se refere a exportação para países terceiros e Europa, com um total de vendas de cerca de 2,5 milhóes de euros.
E quais são os grandes mercados da Labrugeira em termos de exportação?
Angola era o grande mercado atè há cerca de ano e meio, seguido de Estados Unidos, Brasil e China. Atualmente o nosso maior mercado é o Brasil e mais uma dezena de países da União Europeia.
Como chegam até esses mercados?
Através sobretudo da presença em feiras onde temos encetado contatos com importadores. O SISAB PORTUGAL por exemplo, tem sido uma feira bastante importante para nós e por isso temos estado presentes há já vários anos. Fazem-se aqui contatos importantes com muitos importadores estrangeiros.
Isto significa que a Labrugeira tem vinhos aptos a estar no mercado internacional
Esta zona norte da região de Alenquer é uma região que produz vinhos, desde o tempo da ocupação romana. Pode dizer-se que é um clássico na produção de vinho, é uma região de meia encosta defendida pelo maciço da Serra de Montejunto, o que faz com que as vinhas estejam protegidas dos ventos de oeste e das maresias e estas evoluem e amadurecem com mais suavidade, e com uma criteriosa selecção de castas temos conseguido vinhos de excelência aqui na região.É por isso que hoje mais de 60 por cento dos DOC da região de Lisboa, são produzidos no concelho de Alenquer.
Quantos sócios tem atualmente a adega?
Sócios efetivamente que colocam uvas são 330 que produzem em escalões distintos. Temos viticultores a produzir 100 e 200 toneladas mas a maioria produz 10,20 e 30 toneladas de uvas, o que no conjunto nos permite produzir dois milhões e meio de garrafas por ano, mais 400.000 bag-in-box sendo o restante vinhos vendidos a granel.
Alenquer parece estar a recuperar o seu nome na área dos vinhos…
Quando a VCR se chamava “Estremadura”, Alenquer já liderava aqui na região de Lisboa. Agora com o aparecimento de mais três ou quatro engarrafadores que vieram dar mais prestigio e expressão à região, conseguimos realçar ainda mais o nome e prestígio da região de Alenquer e isso é conseguido porque há matérias primas (uvas) muito boas.
Por falar em matérias primas que castas produzem?
Neste momento as uvas brancas dominantes são o “Fernão Pires” e o “Arinto” e depois “Vital” e “Jampal”. Nos tintos foram introduzidas há 10/15 anos o “Syrah”, e substutídas muitas vinhas replantadas com “Tinta Roriz”, “Caladoc”, “Touriga Nacional” e “Alicante Bouchet”
E neste momento estamos em colaboração e protocolámos com o Ministério da Agricultura, através do INIAVE e a Câmara Municipal de Alenquer, um projeto para tenta fazer ressurgir algumas castas outrora importantes, hoje pouco significativas, mas com potencial de futuro; é o caso da casta “Vital” branca (casta autóctone tradicional portuguesa), cujas parcelas da região estão a ter um acompanhamento especial do qual resultou já no lançamento dum novo vinho branco DOC 2016 com a marca «Empatia” (monovarietal) com grande sucesso no mercado.
Dê-me uma panoramica geral dos vinhos da Labruhgeira
São vinhos que se bebem muito bem, maduros, meio-secos, com um equilibrio muito bom na análise físico-quimica, com bom aroma, e boa côr e corpo, no caso dos tintos. De grande diversidade, produzimos vinhos leves, mas a maoria tem atualmente graduação alcoolica natural na ordem dos 13/14 graus. E com esta rearrumação de castas conseguimos introduzir qualidade e padronizámos vinhos para o mercado nacional e internacional.
Refiro por exemplo o Talismã Reserva branco de 2015, que em 2017 foi medalha de ouro no “Festival Nacional do Vinho”, medalha de ouro da Viniportugal no “Concurso de Vinhos de Portugal” e medalha de ouro no “Concurso de Vinhos de Alenquer”. A maior parte deste vinho de excelência destina-se à exportação, mas também está em garrafeiras, as mais atentas no mercado nacional.
Já no concurso de vinhos de Lisboa, tivemos quatro vinhos em prova e conquistámos uma medalha de ouro e uma de prata, respectivamente com o “Syrah&Tinta Roriz 2015” e com o “Tinta Roriz 2015”. E chamo a atenção para um fator importante, quando mandamos vinhos para um concurso temos 100 ou 200 mil garrafas para vender, portanto não estamos a produzir qualidade em quantidades pequenas, mas sim grandes quantidades.
Que outros mercado está a Adega da Labrugeira interessada em descobrir?
Com a queda de Angola e a crise das divisas, a exportação dos nossos vinhos caiu em 2014 e as empresas que exportavam para Angola, cerca de 80, estão a procurar ressurgir noutros mercados, na Escandinávia, Estados Unidos e Canadá. Que são mercado que estão a crescer e a redescobrir os vinhos portugueses. No caso dos Estados Unidos e Canadá o aumento das exportações portuguesas é superior ao aumento do consumo. É aí e bem, que tem sido feito um trabalho conjunto de várias entidades, nomeadamente CVR Lisboa, Viniportugal e das empresas também, e com esse trabalho está a ressurgir um certo potencial de crescimento dos vinhos portugueses.
A Adega da Labrugeira apesar dos bons produtos que tem não investe muito em marketing…
Temos as nossas limitações, nas cooperativas é diferente das empresas privadas, porque há mais dificuldades em investir na área do marketing e por isso temos estado mais atentos à produção, mas eu penso que as empresas que vão sobreviver no futuro terão forçosamente de estar mais atentas à parte comercial e ao marketing.
No caso da Labrugeira temos produzido bastantes vinhos de excelência que vendemos a granel a outras empresas para comercializarem com outras marcas, e acho que temos de aumentar no futuro as quotas de comercialização das nossas próprias marcas.
E como foi a produção deste ano?
Sabemos que este ano há uma produção inferior em Espanha, França e Itália. Portugal conseguiu aguentar-se sem quebras de produção, e estamos perante um ano de grande qualidade. Trata-de de um ano em que nos podemos afirmar um pouco mais com um ano de grande qualidade
Apesar da seca…
Felizmente aqui na zona de Alenquer tivemos alguns orvalhos noturnos que fizeram com que as uvas não secassem e como não houve doenças, nem míldios, nem oídios, nem nada…